Por Octavio Caruso
Daniel Boone (1964-1970)
O |
seriado, inspirado em
história real, conta a saga do aventureiro Daniel Boone (1734-1820), vivido por
Fess Parker, seu cotidiano, as conquistas e grandes empreitadas vividas pelos
colonizadores do oeste americano, no século XVIII. Em meio às dificuldades da
época, Boone resolvia problemas sociais e vivia aventuras entre inimigos e
índios amigos.
A indústria do
entretenimento norte-americano vive há décadas escrava de uma agenda de valores
propositalmente invertidos, mas houve uma época em que crianças e adolescentes
vibravam na frente da telinha com os atos de bravura e justiça de heróis
psicologicamente amadurecidos, corajosos e tenazes, que ensinavam o amor à
família e a importância de conceitos como honra e ética.
A série em seu auge batia de frente com pesos-pesados, como
“Batman” e “Os Monstros”, mas em sua essência simples mantinha sua audiência
fiel exatamente pelas mensagens inspiradoras que cada episódio entregava,
celebrando sempre a autossuficiência, o autoaprimoramento intelectual e o respeito
por todas as raças e credos.
O protagonista, firme em seus princípios, apertava a mão do
índio amigo e enfrentava sem medo o índio desalmado, não havia preconceito, ele
era regido apenas por seus critérios pessoais, levantava a voz contra a
injustiça, mesmo que fosse cometida por uma figura de autoridade, e, por esta
conduta, ele era admirado até por seus adversários. O seu tesouro era sua
família, a esposa Rebecca (a bela Patricia Blair), o pequeno Israel (Darby
Hinton) e a adolescente Jemima (Veronica Cartwright), além do amigo Cherokee
Mingo (Ed Ames).
Há um episódio da primeira temporada de “Daniel Boone”, ainda em
preto e branco, que representa com excelência este direcionamento, “Trevo de Quatro Folhas” (você encontra
com facilidade completo no Youtube), dirigido por John English, o meu favorito
dentre todos que vi nas exibições televisivas pela TV Record, no início da
década de 90, e, claro, nos garimpos pela internet. Nele, um professor
ingenuamente dá barris de pólvora para índios cruéis, levando perigo para a
cidade em que pretende trabalhar.
“O meu pai me ensinou que o entendimento é como uma moeda, sempre tem dois lados.” (o pequeno Israel Boone ensinando uma lição ao professor, vivido pelo comediante George Gobel)
O homem das letras, ingênuo no tocante à maldade humana,
compreende tardiamente que nem todos os índios são confiáveis. Ao chegar na
cidade, encontra pais e mães que se recusam à permitir que seus filhos tomem
lições de alguém tão tolo. Os únicos que se levantam na multidão defendendo o
homem, Daniel e sua família, percebem logo que será muito difícil mudar o
pensamento daquelas pessoas simplórias. O povo, carente de pólvora, fica
indefeso, vítimas fáceis.
A solução encontrada nos livros pelo intelectual, incentivado
por Daniel, os ingredientes necessários para se preparar pólvora, garante uma
surpresa explosiva para os invasores. A imagem mais bonita, ao final, o
professor entristecido na sala de aula vazia, acreditando-se abandonado pelo
povo, percebe emocionado a entrada de Boone e seus filhos, liderando o grupo de
crianças e adultos, já que havia conquistado o respeito e a confiança de seus
pares. E, principalmente, Daniel provou de forma prática ao povo relutante a
importância da leitura, do aprendizado.
“Daniel Boone” é uma série que devia ser transmitida novamente, apesar de soar alienígena em nossa distorcida sociedade atual. Quem sabe não acende o pavio da necessária esperança de um futuro melhor?
Blog do Paixão