Por Adriana de Paula
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m seu poema “Horário do fim”, Mia Couto
diz: “morre-se nada/ quando chega a vez/ é só um solavanco / na estrada por
onde já não vamos / morre-se tudo / quando não é o justo momento /e não é nunca
/esse momento”. Lidar com a morte é uma tarefa muito difícil para muitas
pessoas. Em nossa cultura, são raros aqueles que se preparam para esse momento.
Por mais que se saiba que a morte é inevitável, o luto é um processo de muita
dor.
O Dia de Finados no Brasil
tem esse tom de dor, de melancolia e de saudade. As visitas aos cemitérios
marcam um ritual de lembrança daqueles que partiram e um momento de
homenageá-los com flores, orações e velas.
De acordo com o professor Fernando
Altemeyer Júnior, o Dia de Finados foi oficializado pela Igreja Católica no ano
de 998, por Santo Odon de Cluny, um abade francês que promoveu diversas
mudanças no sistema religioso de sua época.
Na época em que a data foi
oficializada, os fiéis faziam orações aos mortos para salvar as suas almas e
garantir que sairiam do purgatório e alcançariam o Paraíso.
Embora oficializada pela
Igreja no século X, muito antes disso e até mesmo antes do surgimento de
religiões cristãs, povos pagãos já tinham rituais em homenagem aos mortos.
Em 421, Santo Agostinho publicou a obra
“De cura pro Mortuis Gerenda”, na qual tratava do modo como se deve cultuar os
mortos e dedicar-lhe orações. Cabendo à Igreja Católica rezar por todos eles.
A obra também discute a importância dos ritos fúnebres, que trará
conforto aos vivos e permitirá que os mortos sejam para sempre lembrados.
O modo como cada povo e cada
religião vive o luto é diferente. A morte ganha diferentes significados em
diferentes culturas e em diferentes épocas. Isso interfere nos rituais
praticados durante velórios e no significado que o Dia de Finados assume
conforme a crença de cada um.
No México, o Dia dos Mortos é
celebrado entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro e é marcado pela
comemoração da visita dos antepassados à Terra. Para os mexicanos, os mortos
devem ser recebidos com alegria. São montados altares coloridos e adornados com
velas, imagens e alimentos. Famílias se reúnem para homenagear os seus entes
queridos. As casas e as ruas são decoradas com desenhos de caveiras e grandes
desfiles são feitos pelas ruas.
Altar do Dia dos Mortos no México
Em Bali, é mais comum que os mortos
sejam cremados, assim, a cerimônia é acompanhada por uma grande festa.
Comunidades budistas da Mongólia e do
Tibete têm a crença de que o corpo morto deve ser devolvido à natureza. Desse
modo, eles o cortam em pedaços e levam no alto de uma montanha, para que
abutres espalhem os pedaços pela natureza.
Em Gana, os caixões são construídos
de modo a representarem o que os mortos faziam em vida.
Na Guatemala, grandes pipas são
produzidas e empinadas para decorar o céu. Cada uma delas representa a alma de
alguém que partiu.
Desfile no Dia dos Mortos no México
No Haiti, grandes tambores são usados
para fazer uma batucada perto dos cemitérios, o objetivo é acordar o Deus dos
mortos.
Os rituais fúnebres e o modo como os
mortos são lembrados são bem variáveis. Seja com celebrações e festas ou com
recolhimento e silêncio, cada povo, cada cultura, cada religião, conserva
diferentes tradições para homenagear os seus mortos e rememorar as suas vidas.
Celebração do Dia de Finados na Guatemala
Referências:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-46026338
https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/16083/1/WBS26092019.pdf
Fonte: Iconografia da História
Blog do Paixão