Legenda da foto,
Bolsonaro
e Lula se enfrentam no segundo turno neste domingo
Em meio à corrida presidencial polarizada de 2022, muitos
brasileiros têm usado a internet em busca de respostas.
M |
as nem sempre essas dúvidas são facilmente
sanadas — especialistas alertam para a torrente de notícias falsas espalhadas
por diferentes plataformas.
Por isso, a 48 horas do pleito, a BBC News
Brasil elencou as principais dúvidas dos eleitores sobre os dois candidatos à
presidência — Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — e buscou
as respostas.
Os dados foram colhidos a partir das
buscas realizadas no Google nos últimos sete
dias.
A maior parte das pesquisas mais recentes sobre Jair Bolsonaro e Lula gira em torno do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB). Aliado do atual presidente, ele foi o delator do escândalo do "mensalão", um esquema de compra de apoio político ocorrido durante o primeiro mandato presidencial do petista.
CRÉDITO,REUTERS
Legenda da foto,
Roberto
Jefferson teve prisão domiciliar revogada por ter descumprido medidas impostas
pelo Supremo
Quem é Roberto Jefferson
Presidente de honra do PTB (Partido
Trabalhista Brasileiro), o ex-deputado Roberto Jefferson é aliado do presidente
Jair Bolsonaro. Ele estava em sua casa no interior do Estado do Rio de Janeiro
e teve sua prisão domiciliar revogada nesta semana pelo ministro do STF
(Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral),
Alexandre de Moraes, por violar os termos de seu benefício.
Jefferson resistiu inicialmente à prisão,
disparando contra policiais da PF (Polícia Federal) e atirando granadas contra
eles. Dois agentes ficaram feridos.
Ele foi preso em flagrante. Nesta
quinta-feira (27/10), Moraes converteu a prisão em flagrante de Jefferson em
preventiva (por tempo indeterminado).
Bolsonaro tentou desvencilhar sua imagem da
de Jefferson, chamou-o de "bandido", apesar de criticar sua prisão
que, segundo ele, carece de "inquérito" e "atuação do MP
(Ministério Público)". Disse também que não havia fotos dos dois juntos, o
que não é verdade.
"Não tem uma foto dele comigo,
nada", disse.
Mas imagens dos dois juntos estão registradas
e foram divulgadas pelo PTB.
Jefferson foi o delator do chamado
"mensalão", um esquema de compra de apoio político ocorrido no
primeiro mandato de Lula como presidente — parlamentares recebiam dinheiro em
troca de votarem a favor dos projetos do governo. Seu partido, o PTB, fazia
parte da base aliada.
O que Bolsonaro fez na carreira política?
Bolsonaro entrou para a política em 1989 ao
se eleger vereador pela cidade do Rio de Janeiro. Desde então, foi deputado
federal por sete mandatos (28 anos), até ser eleito presidente da República em
2018 com cerca de 58 milhões de votos
(55,13% do eleitorado).
Durante sua carreira política, apresentou
cerca de 170 projetos de lei, mas apenas dois foram aprovados — um que estende
o benefício de isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para
produtos de informática e outro que autoriza o uso da chamada a
fosfoetanolamina sintética, a "pílula do câncer", cuja eficácia não
foi comprovada; o STF acabou barrando o uso do medicamento.
CRÉDITO,AFP
Legenda da foto,
'Acho
que ele está com medo de que, se eu ganhar as eleições, eu vá saber o que o
Bolsonaro perdoou da dívida do Imposto de Renda dele. Acho que é isso que ele
está com medo de mim', disse Lula sobre Neymar
O jogador de futebol Neymar apoia abertamente
Bolsonaro. Em entrevista ao podcast Flow, em 18 de outubro, Lula comentou o
apoio do craque a seu rival, afirmando que Neymar deve estar "com
medo" de que um suposto perdão do chefe do Executivo à sua dívida com a
Receita Federal seja descoberto.
"Não fico p..., Neymar tem o direito de
escolher quem ele quiser para ser presidente", disse Lula. "Acho que
ele está com medo de que, se eu ganhar as eleições, eu vá saber o que o
Bolsonaro perdoou da dívida do Imposto de Renda dele. Acho que é isso que ele
está com medo de mim", acrescentou.
O petista disse considerar "óbvio"
que tenha havido um acordo entre Bolsonaro e o pai do jogador, o empresário
Neymar da Silva Santos.
"Obviamente o Bolsonaro fez um acordo
com o pai dele. E ele agora está com problema com o imposto de renda na
Espanha. Mas isso não é um problema do presidente, é da Receita Federal, e não
meu", afirmou.
Por meio de um comunicado, a NR Sports,
empresa da família de Neymar Jr. que gerencia a carreira do jogador,
classificou afirmação como "falaciosa" e "leviana". Também
disse que Lula deverá provar o que disse "no palco adequado".
"A NR Sports, seus Diretores e a família
do Sr. Neymar da Silva Santos, repudiam a afirmação falaciosa que um dos
candidatos à Presidência da República fez de forma leviana, ao acusá-los de
práticas de condutas ilícitas supostamente praticadas em conjunto com o atual
presidente Jair Messias Bolsonaro", escreveu a empresa no seu perfil no
Instagram.
"Para encerrar definitivamente o assunto
comunicamos que a informação é falsa. Os responsáveis deverão provar o
contrário no palco adequado." "Em um momento importante que o país
está vivendo não se espera de um candidato à presidência da república falas
como essa, que ultrapassam os limites do razoável da liberdade de
expressão", concluiu.
O que Bolsonaro fala sobre aposentadoria?
Em seu plano de governo, Bolsonaro diz
pretender "aprimorar o sistema previdenciário, garantindo sustentabilidade
financeira e justiça social".
Em vídeo divulgado por sua campanha, ele
disse recentemente que o salário mínimo do Brasil irá aumentar acima da
inflação para 2023, além de prever aumento real para aposentados, pensionistas
e servidores públicos.
"Consertamos a economia do Brasil,
estamos arrecadando muito, a partir do ano que vem, a nossa garantia é dar a
todos os aposentados e pensionistas um reajuste acima da inflação, a mesma
coisa no tocante aos servidores públicos. O valor do salário mínimo também será
acima da inflação", afirmou.
Sobre aposentadoria, Bolsonaro foi alvo de
fake news. Um vídeo que circula nas redes sociais foi editado para fazer crer
que ele cortaria salários de servidores, pensões e aposentadorias em 25% e que
essa seria uma proposta do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Já outro vídeo, manipulado para distorcer sua
fala, faz crer que Bolsonaro confiscaria a aposentadoria dos brasileiros e
nomearia seu aliado, o ex-presidente Fernando Collor de Mello, como ministro da
Previdência.
Por que Bolsonaro se aposentou?
Jair Bolsonaro é aposentado pelo Exército
Brasileiro.
Ele iniciou sua carreira no Exército em 1973
e entrou para a reserva remunerada em 1989.
Isso aconteceu porque, em 1988, ele foi
eleito vereador na cidade do Rio de Janeiro, e assumiu o mandato em 1989.
Segundo o Estatuto dos Militares, o
integrante das Forças Armadas, se for eleito para cargo político, será
transferido automaticamente para a reserva remunerada.
Essa reserva é diferente da aposentadoria,
porque o militar ainda pode ser convocado para as atividades, se for
necessário.
Mas, mesmo que queira seguir na ativa, o
militar é obrigado ir para a reserva, de modo a evitar a influência de
interesses político-partidários.
Em 2015, quando completou 60 anos, Bolsonaro
atingiu a idade limite de permanência na reserva remunerada do Exército,
passando, portanto, a ser capitão "reformado".
É falso que Bolsonaro receba R$ 68 mil de
aposentadoria, como parece mostrar um suposto extrato de pagamento compartilhado
nas redes sociais. Segundo o Portal da Transparência,
ele recebeu, em agosto deste ano, R$ 11.945,49 brutos por sua atuação como
militar.
Também é falso que ele tenha sido aposentado
ou expulso do Exército com laudo de "insanidade mental", como alegam
algumas publicações nas redes sociais.
Por que Lula não foi ao debate?
Lula não compareceu aos debates do 2º turno
que aconteceram no SBT (21 de outubro) e na Record (23 de outubro).
A campanha do petista optou por
enfrentamentos contra Bolsonaro apenas na Band (16 de outubro) e na Globo (28
de outubro).
No primeiro turno, Lula já havia optado por
não ir ao debate no SBT; já a Record não organizou encontro com os candidatos. Na
ocasião, o petista alegou "incompatibilidade de agendas".
Lula já falava que não deveria comparecer a
todos os debates, mesmo antes do início da corrida presidencial. Sua campanha
argumenta que tais eventos demandam muito tempo de preparação.
Já Bolsonaro disse que o rival
"brochou" por não ir ao debate no SBT e o chamou de "fujão"
por não ter marcado presença no encontro realizado pela Record.
CRÉDITO,ISAAC AMORIM/MJSP
Legenda
da foto,
Mendonça ocupou lugar de Marco Aurélio
Mello
Quem Bolsonaro indicou para o STF?
Bolsonaro indicou dois ministros para o STF
(Supremo Tribunal Federal), instância máxima do Poder Judiciário: André
Mendonça e Kassio Nunes Marques.
André Mendonça foi o mais recentemente
indicado pelo presidente, em 2021, e ocupou a vaga que era de Marco Aurélio
Mello.
Ex-advogado-geral da União (AGU) e pastor
presbiteriano, foi descrito por Bolsonaro como "terrivelmente
evangélico".
Já Kassio Nunes Marques foi indicado pelo
presidente em 2020 e ocupou a vaga que era de Celso de Mello.
Nunes Marques era desembargador do Tribunal
Regional Federal da 1ª região.
Piauiense de Teresina, atuou como advogado
por 15 anos. Ele é o único nordestino entre os 11 ministros.
Quando Lula nasceu? Quando virou presidente? Quando saiu
do poder?
Lula nasceu em Caetés, no interior do Estado
de Pernambuco, em 27 de outubro de 1945. Ele tem 77 anos, 10 a mais do que
Bolsonaro.
Ele foi empossado como presidente em 1º de
janeiro de 2003. Governou o Brasil por dois mandatos e saiu do poder em 1º de
janeiro de 2011, quando passou a faixa presidencial à sua sucessora, a
ex-presidente Dilma Rousseff, que havia sido ministra da Casa Civil e de Minas
e Energia de seu governo.
CRÉDITO,AFP
Legenda
da foto,
Bolsonaro estava sendo carregado por
apoiadores quando levou uma facada na barriga em 2018
Quando Bolsonaro levou a facada?
Bolsonaro foi vítima de um ataque durante um
ato de campanha em Juiz de Foras (MG) em 2018.
Ele recebeu uma facada e precisou passar por
cirurgia.
O autor do ataque foi identificado como
Adélio Bispo de Oliveira. Ele segue preso em uma penitenciária federal em Campo
Grande, no Mato Grosso do Sul.
Segundo um laudo pericial, Bispo
"permanece com diagnóstico clínico de transtorno delirante
persistente" e teria "alucinações de cunho religioso, persecutório e
político que se manifestam frequentemente".
Um delegado que cuidou do caso concluiu por
duas vezes que ele agiu sozinho e que não houve mandante no atentado contra
Bolsonaro.
Em junho de 2020, com base nas conclusões da
segunda investigação da Polícia Federal sobre o episódio, o Ministério Público
Federal (MPF) em Minas Gerais se manifestou pelo arquivamento do inquérito
policial que apurava o possível envolvimento de terceiros no crime.
Apesar disso, Bolsonaro e aliados no governo
alegam que o atentado foi orquestrado.
- Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63426576
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