Genivaldo morreu
após ter sido trancado no porta-malas de uma viatura da PRF e submetido à
inalação de gás lacrimogêneo. A certidão de óbito apontou asfixia e
insuficiência respiratória como causa da morte.
Por g1 SE
Acusados de envolvimento na morte de Genivaldo Santos — Foto: Reprodução/TV Globo
O |
s três policiais rodoviários federais acusados de
envolvimento na morte de Genivaldo Santos, 38 anos, durante uma
abordagem, no dia 25 de maio deste ano, estão presos no Presídio Militar de
Sergipe, em Aracaju. A informação foi confirmada pela direção da unidade. A
prisão foi realizada, nesta sexta-feira (14), após os policiais se apresentarem
voluntariamente à Polícia Federal, cinco dias depois que o MPF ofereceu denúncia à Justiça contra eles. A defesa dos
policiais ainda não se manifestou sobre a prisão.
Genivaldo morreu
após ter sido trancado no porta-malas de uma viatura da PRF e submetido à
inalação de gás lacrimogêneo. A certidão de óbito apontou asfixia e insuficiência respiratória como causa da morte.
William de Barros
Noia, Kleber Nascimento Freitas e Paulo Rodolpho Lima Nascimento foram
indiciados pela Polícia Federal por homicídio qualificado e abuso de autoridade. Na última
segunda-feira (10), o Ministério Público Federal ofereceu denúncia à Justiça e pediu que fosse retirado o
sigilo do caso.
Através de nota, a
Justiça Federal em Sergipe informou que o magistrado titular da 7ª Vara Federal
- Subseção Judiciária de Estância, Rafael Soares Souza, determinou a prisão
após a representação do Ministério Público Federal em Sergipe (MPF/SE) sobre o caso.
E informou que a
custódia cautelar tem o objetivo de garantir a ordem pública e instrução do
processo. Ainda segundo a nota, os policiais passaram por exame de corpo de
delito no Instituto Médico Legal (IML), uma audiência de custódia e depois
foram encaminhados para o presídio.
Perícia
sobre o caso
Genivaldo morreu após ficar 11 minutos e 27 segundos exposto a gases
tóxicos, e impedido de sair de uma viatura da Polícia Rodoviária
Federal em Sergipe. A informação é um dos resultados da perícia feita pela
Polícia Federal, que a reportagem do Fantástico, exibiu no domingo (9), com
exclusividade.
Durante as
investigações os peritos atestaram que a concentração de monóxido de carbono
foi pequena. Já a de ácido sulfídrico foi bem maior, e pode ter causado
convulsões e incapacidade de respirar.
Segundo a perícia,
o esforço físico intenso e o estresse causados pela abordagem policial
resultaram numa respiração acelerada de Genivaldo. Isso pode ter potencializado
ainda mais os efeitos tóxicos dos gases. A perícia afirmou ainda, que os gases
causaram um colapso no pulmão da vítima.
Genivaldo de Jesus Santos, morto durante ação da PRF, em Umbaúba (SE) — Foto: Arquivo pessoal
Nas imagens da
abordagem realizadas por populares e familiares, a perícia observou que o
policial William aparecia solicitando que Genivaldo colocasse as mãos na
cabeça. Genivaldo obedece, mas mesmo assim, recebe spray de pimenta no rosto.
Segundo os peritos,
o policial Kleber Nascimento Freitas jogou spray de pimenta pelo menos cinco
vezes em Genivaldo, que alegou que não estava fazendo nada. A ação continuou no
chão, quando dois policiais pressionaram o pescoço e o peito de Genivaldo com
os joelhos.
Após Genivaldo ser
colocado no porta-malas da viatura, o policial Paulo Rodolpho Lima Nascimento
jogou uma granada de gás lacrimogêneo no compartimento. Paulo Rodolpho e
William de Barros Noia seguraram a porta, impedindo que a fumaça se dissipasse
mais rapidamente.
Esquizofrenia
Genivaldo sofria de esquizofrenia, fazia tratamento há pelo
menos 18 anos e tomava antipsicóticos. O laudo toxicológico apontou a presença
do remédio no sangue dele, não havia sinais de bebida alcoólica e nem de
drogas.
À polícia, o
psiquiatra responsável pelo tratamento disse que, no momento da abordagem,
Genivaldo não estava em surto, por estar medicado e que ele era uma pessoa
pacífica e levava uma vida normal.
Multa
após a morte
Fantástico: irmã de Genivaldo diz que recebeu multas por infrações de trânsito
A família informou
que três meses após a morte de Genivaldo, recebeu uma correspondência da
Polícia Rodoviária Federal. No documento, consta que ele foi multado por estar
sem capacete no dia de sua morte, sem habilitação e de sandálias. Genivaldo recebeu quatro multas da Polícia Rodoviária Federal, no
valor total de R$ 1.800.
Sobre o assunto, a
PRF informou que um processo foi instaurado para suspender as multas.
Veja a cronologia:
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Por volta das 11h do dia 25 de maio, Genivaldo foi
abordado por três policiais rodoviários no km 180 da BR-101, em Umbaúba;
segundo depoimento registrado no boletim de ocorrência (BO), os agentes o
pararam por não usar capacete enquanto dirigia uma motocicleta;
- ·
Imagens feitas por populares mostram quando os
agentes pedem que ele coloque as mãos na cabeça e abra as pernas para a
revista;
- ·
O sobrinho da vítima, Wallison de Jesus, diz que
avisou aos policiais que o tio tinha transtornos mentais. Ainda de acordo com
ele, os agentes encontraram uma cartela de um medicamento controlado no bolso
do tio, que fazia tratamento para esquizofrenia há cerca de 20 anos. Também
segundo a família, Genivaldo era aposentado em virtude dessa condição.
- ·
Wallison relata que o tio ficou nervoso e perguntou
o que tinha feito para ser abordado. No BO os policiais dizem que ele ficava
passando a mão pela cintura e pelos bolsos e não obedecia às suas ordens e que,
por isso, precisaram contê-lo. Segundo os agentes, os primeiros recursos foram
spray de pimenta e gás lacrimogêneo.
- ·
Um vídeo mostra quando um dos agentes tenta
imobilizar Genivaldo com as pernas no pescoço. No chão, ele é algemado e tem os
pés amarrados.
- ·
Em seguida, Genivaldo é colocado no porta-malas do
carro da PRF, que está com os vidros fechados. Os policiais jogam gás e fecham
o compartimento. Genivaldo se debate, com os pés para fora do porta-malas,
enquanto os policiais pressionam a porta.
- ·
No boletim de ocorrência, os policiais dizem que o
homem teve um "mal súbito" no trajeto para a delegacia e foi levado
para o Hospital José Nailson Moura, no município, onde morreu por volta das
13h.
- ·
O corpo foi recolhido pelo Instituto Médico Legal
de Sergipe e chegou a Aracaju às 16h58. Um laudo do órgão aponta que Genivaldo
morreu por asfixia mecânica e insuficiência respiratória aguda.
- ·
Por volta das 18h, a Polícia Rodoviária Federal se
pronunciou, informando ter aberto um procedimento para apurar o caso, que
também é investigado pelas polícias Civil e Federal. O Ministério Público Federal
em Sergipe também acompanha as investigações.
- ·
O corpo de Genivaldo foi sepultado em Umbaúba por
volta das 11h do dia seguinte, 26 de maio. Ele deixou esposa e um filho e oito
anos.
- ·
No fim da tarde, a PRF informou sobre o afastamento
dos agentes envolvidos.
Blog do Paixão