Com derrota para Lula, Bolsonaro
enfrenta esvaziamento do Planalto e riscos judiciais, da prisão à
inelegibilidade, e reconstrói planos para futuro político. Crítico à “mamata”,
usará dinheiro do fundo público do PL para permanecer em Brasília
FIM DA FESTA Bolsonaro descer as escadarias do Planalto: acabou para ele (Crédito: Adriano Machado)
Novo
governo
S |
etenta e
duas horas após a eleição de Lula, Jair Bolsonaro expressou a seus apoiadores,
pela primeira vez, como se sente sobre a derrota. “Estou tão chateado e triste
quanto vocês”, disse, ao pedir a extremistas o desbloqueio de rodovias, sem
condenar o perfil antidemocrático dos protestos. Antes da gravação, o
presidente havia demonstrado a consternação apenas a aliados, enquanto
resistia, entre conversas no Planalto e no Alvorada, a reconhecer o resultado
das urnas. Tamanha indignação, o capitão chegou a criticar o ministro da Casa
Civil, Ciro Nogueira, e o vice-presidente Hamilton Mourão, por abrirem ao PT as
portas para a transição. Colocou-se de pé apenas depois de ouvir que o
bolsonarismo não morreu e ao receber apoio para traçar o próprio futuro político.
Bolsonaro planeja aceitar um cargo na
Executiva Nacional do PL e permanecer em Brasília, perto dos filhos, Flávio e
Eduardo, que liderarão a oposição a Lula no Congresso. Sob as asas do partido,
contará com um poderoso staff de advogados, custeado por dinheiro público. O
time será um alívio, porque, sem foro privilegiado, o capitão enfrentará na
Justiça comum uma série de processos, que vão da suspeita de interferência na
Polícia Federal à negligência na pandemia. Um dos mais sensíveis elenca transações
financeiras suspeitas feitas no gabinete do presidente, como depósitos
fracionados e saques em dinheiro, para o pagamento, por um ajudante de ordens,
de contas do clã Bolsonaro e também de pessoas próximas da primeira-dama.
O medo de
ser preso
Além disso, Bolsonaro deve permanecer na mira
de Alexandre de Moraes, que manterá abertos os inquéritos que visam ataques a
ministros do STF e a atuação de uma milícia digital contra a democracia. Na
Justiça Eleitoral, o presidente vai responder a ações por abuso de poder pelo
uso da máquina pública para financiar seu projeto de reeleição, com a liberação
de parcelas extras de benefícios para taxistas e caminhoneiros e a
transformação do Alvorada em palco para a contestação do sistema eleitoral
diante de embaixadores, por exemplo. Entre a seara criminal e a eleitoral,
Bolsonaro enfrenta um mar de possibilidades, que vão da prisão à
inelegibilidade por oito anos.
São
preocupações para o fim do mandato. Até 31 de dezembro, Bolsonaro, como conta a
mitologia de Brasília, será servido com café frio diante da redução de seu
cacife político. Enquanto vê Lula aplaudido por lideranças mundiais e alçado a
estrela em eventos internacionais, o presidente, que conteve a própria sanha
golpista de olho em 2026, lidará com uma agenda esvaziada. Não terá paz nem
para transitar no Planalto — na quinta-feira, enquanto Ciro Nogueira recebia
Geraldo Alckmin, Aloizio Mercadante e Gleisi Hoffmann, por exemplo, Bolsonaro,
sem compromissos oficiais, tratou de não pisar o pé em seu gabinete. Direita,
volver, capitão.
Blog do Paixão