Maior de todos, Edson Arantes do Nascimento foi o único na história a ganhar 3 copas como jogador, Marcou mais de 1.200 gols, empilhou troféus, revolucionou o esporte e encantou o mundo. Será eterno.
Por G1
Pelé é carregado nos braços durante a comemoração do Tri em 1970 — Foto: Alessandro Sabattini/Getty Images
O futebol perdeu seu Rei. Nesta quinta-feira,
morreu Pelé, o maior
jogador da história, aos 82 anos.
A família ainda não divulgou detalhes sobre o velório, mas uma estrutura foi montada na Vila Belmiro nos últimos dias para receber a vigília. O sepultamento ocorrerá em Santos.
O |
Atleta do Século estava internado desde 29 de novembro
no hospital Albert Einstein, em São Paulo. A internação ocorreu em virtude de
uma infecção respiratória após ele contrair Covid-19 e para a reavaliação do
tratamento de um câncer no cólon. Na tarde desta quinta, o hospital anunciou a
morte do Rei.
- O
Hospital Israelita Albert Einstein confirma com pesar o falecimento de Edson
Arantes do Nascimento, o Pelé, no dia de hoje, 29 de dezembro de 2022, às 15h27, em
decorrência da falência de múltiplos órgãos, resultado da progressão do câncer
de cólon associado à sua condição clínica prévia. O Hospital Israelita Albert
Einstein se solidariza com a família e todos que sofrem com a perda do nosso
querido Rei do Futebol.
O
perfil oficial de Pelé no Instagram confirmou a morte com a seguinte
mensagem.
- A inspiração e o amor marcaram a jornada de Rei Pelé, que pacificamente faleceu no dia de hoje. Em sua jornada, Edson encantou todos com sua genialidade no esporte, parou uma guerra, fez obras sociais no mundo inteiro e espalhou o que mais acreditava ser a cura para todos os nossos problemas: o amor. A sua mensagem em vida se transforma em legado para as futuras gerações. Amor, amor e amor, para sempre.
Pelé durante evento em Londres em 2016 — Foto: Neil Hall / Getty Images
Homenagem dos jogadores da seleção brasileira a Pelé na Copa do Mundo — Foto: Reuters
Pelé teve sete filhos e estava casado desde 2016 com Márcia Aoki. Do primeiro casamento, com Rosemeri Cholbi, nasceram Kely Cristina, Edinho e Jennifer. O ex-jogador também é pai dos gêmeos Joshua e Celeste, de seu relacionamento com a psicóloga Assíria Lemos. Além desses, Pelé teve duas filhas fora do casamento: Sandra Regina, que só obteve o reconhecimento da paternidade pela Justiça e morreu em 2006, e Flávia.
O maior jogador de futebol de todos os tempos estreou na Seleção em
1957, numa partida da Copa Roca contra a Argentina, quando também fez seu
primeiro gol com a camisa amarelinha. Pela equipe brasileira, com apenas 17
anos, venceu a Copa do Mundo na Suécia, em 1958.
Quatro anos depois, se machucaria na segunda rodada do Mundial do Chile, também vencido pelo Brasil. Após ser caçado em campo com duras faltas na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, ele comandou o lendário time brasileiro ao tricampeonato mundial em 1970, no México – é o único jogador a vencer três Copas.
Pelé com a taça de campeão do mundo em 1970 — Foto: Horstmüller/Getty Images
Pelo Santos, Pelé é
dono de marcas impressionantes: venceu dez vezes o Campeonato Paulista, torneio
do qual foi o artilheiro por nove temporadas seguidas. Ainda foi bicampeão da
Libertadores e do Mundial de Clubes, em 1962 e 1963. Foi também com a camisa
branca do Peixe que marcou seu milésimo gol, contra o Vasco, no Maracanã, no
dia 19 de novembro de 1969.
Segundo números do Santos, Pelé marcou
pelo clube 1.091 gols em 1.116 jogos.
Com a camisa canarinho, Pelé disputou
113 jogos e marcou 95 gols, de acordo com números da CBF. Nas contas da Fifa,
que considera apenas jogos entre seleções, são 77 gols em 91 partidas.
Em toda a carreira, Pelé fez
1.282 gols em 1.364 partidas na contabilização feita pelo Santos. Nas redes sociais, o Rei dizia ter feito um a mais,
1.283.
Vida
e obra
O garoto Edson ainda não tinha completado 10 anos quando viu o pai, Dondinho, chorando ao lado do rádio. A seleção brasileira havia acabado de ser batida pelo Uruguai na dolorosa derrota do Maracanã, na final da Copa de 1950, enterrando o sonho de toda a nação de ser campeã do mundo. Aquelas lágrimas levaram Dico, como era chamado na casa dos Arantes do Nascimento, em Bauru, a uma promessa: ganharia um Mundial para o pai se ele parasse de chorar.
Dico pouco depois se transformaria em Pelé e cumpriria aquele juramento: venceria não só
uma, mas três Copas. Com sobras, ainda se tornaria o maior jogador de futebol
de todos os tempos, ícone máximo de um esporte que, para muitos, é religião.
Virou Rei, conquistou o mundo, e hoje seus súditos choram a sua morte, aos 82
anos.
Levará consigo marcas que talvez nunca sejam superadas. É o único tricampeão do mundo – a primeira taça vencida ainda como adolescente, aos 17 anos, na Suécia –, contou 1.281 gols, 95 deles pela Seleção, numa carreira de 21 anos que começou no Santos, em 1956, e terminou no Cosmos, de Nova York, em 1977.
Números da carreira de Pelé — Foto: Infoesporte
Sem as chuteiras, tornou-se um astro internacional, foi astro de cinema,
gravou discos e emprestou sua imagem para vender uma infinidade de produtos, o
maior garoto-propaganda tupiniquim. Teve uma vida atribulada, com polêmicas que
vez ou outra o fizeram de vidraça. Ganhou fama de pé-frio, com seus palpites de
pontaria que não poderia ser comparada, nem de longe, à de seus chutes.
Nos últimos anos, a casca dura de herói imbatível foi afinando com os seguidos problemas de saúde que mostravam a todos que Pelé era um ser humano – pois é, acredite. Em 2012, passou por uma cirurgia para corrigir um desgaste no quadril que lhe tirou parte do fêmur, afetado pelas imparáveis arrancadas nos anos de gramado. Em 2014, outro susto: foi internado para uma cirurgia de retirada de cálculos renais e, duas semanas depois, voltou ao hospital para tratar uma infecção urinária. Um ano depois, passou por uma cirurgia na coluna. Em 2019, voltou a sofrer com problemas urinários e foi internado – primeiro em Paris, depois em São Paulo.
Pelé em 1960: camisa 10 ganhou três Copas do Mundo — Foto: Domicio Pinheiro / Ag. Estado
Os
primeiros toques na bola
– Voltei para casa, era quase meio-dia, sentei para almoçar. Falei para
Celeste: “Não é que a vizinhança tem razão? O menino tem jeito para a coisa”.
Ela continuou disfarçando. Eu insisti: “Se continuar assim, acho que o Pelé vai longe”. Aí ela se virou depressa: “Que Pelé?”. Eu emendei: “Quero dizer, o Dico. Imaginem que
lá no campo todos chamam o Dico de Pelé”. A Celeste não se aguentou: “Vê se não troca o
apelido do menino”.
Foi assim que Dondinho contou sobre a primeira vez que viu o filho jogar, no Bauru Atlético Clube (BAC), em relato publicado pela Folha de S.Paulo em 20 de novembro de 1969, dia seguinte ao do histórico gol de pênalti sobre o Vasco, no Maracanã, o milésimo de Pelé.
Exímio cabeceador, Dondinho rodou pelo interior do país atrás de uma
bola. Em Três Corações (MG), serviu ao exército e fez seus gols pelo Atlético
da cidade. Ali conheceu Maria Celeste e o casal teve seus três filhos, Edson,
Jair e Maria Lúcia. Em 1940, mesmo ano em que Pelé nasceu, chamou a atenção do Atlético-MG, foi
a Belo Horizonte e fez uma única partida: sofreu uma grave lesão contra o São
Cristóvão, do Rio, que enterrou sua chance numa equipe grande.
Foi para Bauru na metade daquela década para atuar pelo Baquinho, como era chamada a equipe do interior paulista. Foi bem, venceu o torneio do interior de 1946. Mas Dondinho não imaginava a contribuição que daria ao futebol ao permitir que o filho treinasse pelo quadro juvenil do clube.
Pelé com o pai Dondinho e a mãe Celeste — Foto: Fifa
No começo dos anos 1950, o ex-jogador Waldemar de Brito foi contratado
pelo clube bauruense para cumprir papel de observador-técnico. Impressionado
com Pelé, com só 15
anos, convenceu a família a deixá-lo partir para Santos, onde aquele
menino ergueria seu reino.
– Durante a viagem, os olhos de meu filho brilhavam. Ele não parecia nada triste com a separação. Olhava tudo pela janela, acho que logo se esqueceu das lágrimas da mãe. Eu estava só acompanhando os riscos do destino. [...] Finalmente, chegou o dia: Pelé foi para a estação, não vender pastéis, como antes, mas com uma maleta – escreveu Dondinho.
A
chegada a Santos
Pelé desembarcou no litoral paulista em 8 de agosto de 1956. Estrearia com a camisa alvinegra quase um mês depois, no Dia da Independência do país, num amistoso contra o Corinthians de Santo André – entrou em campo no segundo tempo, no lugar do artilheiro Del Vecchio, e marcou o sexto gol santista. A partir dali, nem o clube nem Pelé seriam os mesmos.
Pelé contra o Boca Juniors em 1963 — Foto: Santos / Acervo
Rei
de Copas
Precoce, Pelé iniciou sua história na Seleção ainda em 1957, campeão da Copa Rocca. A convocação para a Copa do Mundo do ano seguinte, na Suécia, porém, ainda era um sonho para o menino. Mas Vicente Feola voltou a apostar no garoto de 17 anos para o torneio na Europa. Na preparação, durante um amistoso contra o Corinthians, no Pacaembu, Pelé recebeu uma entrada do zagueiro Ari Clemente e se machucou. A lesão quase o tirou do Mundial, mas sua viagem foi bancada pela comissão técnica.
Camisa 10, escolhida de forma aleatória – menos para quem acredita em destino –, Pelé estrearia apenas na terceira partida, contra a União Soviética. Nas quartas de final, o jovem atacante marcaria seu primeiro gol em Copas contra o País de Gales, o da vitória por 1 a 0. Na semi, contra a França, Pelé passeou: fez três e colocou o Brasil na final para enfrentar o time da casa – uma goleada de 5 a 2, dois gols do jovem atacante. No estádio Rasunda, em Estocolmo, Dico chorava nos ombros de Gilmar ao cumprir a promessa feita oito anos antes ao pai.
Números de Pelé pela seleção brasileira — Foto: Infoesporte
Quatro anos depois, no Chile, Pelé já era uma estrela mundial. Os olhos das arquibancadas, assim como os dos adversários, já o procuravam pelo campo. Na segunda rodada, porém, o inesperado: o craque arriscou um chute de longe, sentiu uma forte dor e foi ao chão. Um estiramento tirava da Copa o principal atleta da Seleção. Outro fora de série, então, chamou a responsabilidade e carregou a equipe ao bicampeonato: de pernas tortas, Garrincha preencheu o vazio deixado por Pelé com maestria.
Pelé chora nos ombros de Gilmar ao comemorar o título mundial de 1958 — Foto: Agência AP
Pelé com o papa João Paulo II em 1987 — Foto: Reuters
Pelé também teve duas filhas fora do casamento, reconhecidas, por caminhos diferentes, na década de 1990. A situação de Sandra Regina foi a que mais abalou a imagem do Rei. Nascida em 1964, ela iniciou um processo judicial em 1991 pedindo reconhecimento de Pelé como seu pai, o que só aconteceu após cinco anos de batalha nos tribunais. O ex-jogador recorreu da decisão diversas vezes e nunca foi próximo à filha, que morreu em 2006, vítima de um câncer.
Com
Flávia Kurtz a situação foi diferente. Fruto de um relacionamento nos anos
1970, Pelé só
a conheceu em 1994. Por anos manteve a situação em segredo e só a tornou
pública oito anos depois. Fisioterapeuta, Flávia sempre participou dos
tratamentos de saúde do pai. Pelé também
teve outros dois filhos, os gêmeos Joshua e Celeste, de seu casamento com a
psicóloga Assíria Lemos.
Aposentado do futebol, Pelé se
arriscou por diversas áreas: foi ator, cantor, garoto-propaganda e político.
Foi durante a sua gestão como Ministro do Esporte, no governo FHC, que foi
promulgada a lei que leva seu nome. A legislação, entre outras coisas, acabou
com o passe que prendia os atletas aos clubes independentemente do tempo de
contrato.
Últimos anos
Símbolo de saúde, o Rei começou a demonstrar sua fragilidade depois dos
70 anos. Em 2012 precisou passar por uma cirurgia de artrosplastia total do
quadril direito. À época, a assessoria do ex-jogador informou que Pelé aproveitaria uma internação para exames de
renovação de um seguro para corrigir “probleminhas de quadril”.
A situação era mais séria do que o Pelé queria deixar transparecer. Numa operação de 1h30, os médicos retiraram a cabeça do fêmur e a substituíram por uma prótese plástica, o que obrigou o ídolo a se locomover por um tempo em cadeira de rodas. Na saída do hospital, chorou e agradeceu as mensagens de apoio recebidas. Durante a recuperação, manteve-se recluso para não ser visto em dificuldade.
Pelé em foto publicada em fevereiro de 2022 — Foto: Arquivo pessoal
Veja o perfil oficial de Pelé no Instagram
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