Especialistas costumam apontar o trabalho policial como uma das
profissões com maior índice de estresse e desgaste
Por Fabio Nóbrega
Guilherme Barros, Wagner Souza, Cláudia Gleice da Silva, Aline Maria e Paulo Rebelo - Foto: Reprodução
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rime brutal que chocou Pernambuco e
virou notícia em todo o Brasil, o caso do policial militar Guilherme Barros, que matou a esposa grávida, no Cabo
de Santo Agostinho, e abriu fogo contra colegas de farda em um batalhão da
corporação, no Recife, deixando mais dois mortos antes de tirar a própria vida,
tornou novamente o debate sobre o acompanhamento
psicológico e a saúde mental dos
profissionais de segurança pública um assunto em evidência.
Isso porque
especialistas costumam apontar o trabalho policial como uma das profissões
com maior índice de estresse e desgaste.
Diariamente, policiais são submetidos a uma rotina que pode resultar em cansaço emocional, ansiedade, insônia, insatisfação
profissional e pensamentos de tirar a própria vida.
Um estudo feito em 2021
entre policiais militares do Acre mostrou em seus
resultados que 73% dos profissionais nunca realizaram acompanhamento psicológico,
apesar de 70% achar o procedimento importante para a
profissão.
Segundo relatos de familiares, a
relação entre Guilherme e Cláudia Gleice da Silva,
com quem estava havia cinco meses e esperando um filho com três meses de
gestação, era abusiva. O policial era "muito
ciumento", de acordo com um irmão da vítima, e não permitia que homens se
aproximassem da companheira.
O psicólogo Rui Gonçalves analisa o cenário da
tragédia envolvendo o policial como resultado do machismo.
Segundo ele, alguns homens acreditam, a partir da visão patriarcal de sociedade, que têm controle sobre outros corpos,
especialmente os femininos.
"Temos muito explicitamente um crime de
feminicídio, que é estruturado por esse machismo que nos circunda e que nos
atravessa, esse machismo que faz com que homens acreditem que tenham controle
sobre outros corpos, corpos que eles tantas vezes acreditam que sejam
vulneráveis", detalha o profissional.
Para Rui, quando um homem mata uma mulher por não aceitar o término de uma relação,
o machismo se manifesta no fato de a mulher não poder escolher com
quem ficar. "O homem não pode ter falhas e deve ser
sempre pronto sexualmente. Tem que ser o pai, chefe da família, ele que manda
em todo mundo. Isso é a base do sistema patriarcal que é, ainda hoje, o conceito hegemônico
da nossa sociedade", completa o psicólogo.
No 19º BPM, o policial Guilherme Barros abriu fogo contra colegas de farda e deixou dois mortos antes de tirar a própria vida (Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco)
"Não somos um robô"
Presente no Instituto Médico Legal (IML) do Recife no dia da liberação do corpo
da major Aline Maria, uma das vítimas da tragédia, o PM reformado Luiz Carlos
Manoel conviveu com a colega por cerca de seis anos no 18º Batalhão da Polícia
Militar de Pernambuco, no Cabo de Santo Agostinho.
O policial Luiz Carlos definiu o trabalho policial como algo que
"mexe muito com o psicológico". "Fomos treinados para suportar
carga, mas tem gente que não aguenta, que está na ativa, porque é um trabalho
árduo, muito difícil. Não somos um robô", explanou.
A major Aline Maria era psicóloga de formação. Recentemente, inclusive,
publicou um artigo sobre a falta de assistência psicológica na Polícia Militar
de Pernambuco intitulado "A prevenção dos sintomas depressivos em policiais
militares do Estado de Pernambuco".
Rui
Gonçalves ressalta que é importante pensar na saúde
mental dos profissionais de segurança a partir do contexto
de que esses colocam as próprias vidas em risco para proteger as nossas.
"Não gosto de colocar os policias como pessoas agressivas, não existe esse
perfil", frisa o psicólogo.
O presidente da Associação de Cabos e Soldados de Pernambuco (ACS-PE),
Luiz Torres, cobra mais apoio psicológico para os profissionais de
segurança.
"A gente já tem uma preocupação, a gente já vinha discutindo sobre
saúde mental. E o que a gente vê é com muita preocupação esse trabalho de
higienização mental dos nossos policiais, dos nossos profissionais de
segurança. É preciso rever essa situação e trazer profissionais capacitados
para trabalhar a mente dos policiais e humanizar mais os policiais",
disse.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Defesa Social e a Polícia Militar de Pernambuco para
saber como funciona o acompanhamento psicológico nas forças de segurança do
Estado e aguarda os respectivos retornos.
Tenente Wagner Souza é sepultado em meio a aplausos, louvores e chuva de pétalas de rosas
Enterro acontece nesta manhã
Por Tarsila Castro
Sepultamento do Cel Wagner Souza - Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco
E |
m meio a aplausos e louvores, o corpo do tenente Wagner Souza foi sepultado por
volta das 11h30 desta quarta-feira (21) no Cemitério Parque das Flores, no
Curado, no Recife. Entre os familiares, estavam os pais e a esposa de Wagner.
Durante a cerimônia de sepultamento, helicópteros do Grupamento Tático Aéreo
jogaram pétalas de rosas.
Muito abaladas e com uma dor imensurável, a
mãe e a esposa do recém tenente choraram copiosamente e precisaram de
muito apoio das pessoas que estavam ao redor e também do Corpo de Bombeiros
Militar de Pernambuco, que estava de prontidão.
Muitos policiais militares e amigos,
bastante abalados, estiveram presentes e prestaram homenagens ao tenente. Muito
querido por todos, Wagner deixou toda a corporação em luto. Vários
carros da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros se encontravam no cemitério.
O tenente de 30 anos foi uma das vítimas do soldado Guilherme Barros, que matou a esposa grávida,
no Cabo de Santo Agostinho, e invadiu o 19° Batalhão da Polícia Militar, no
Pina, onde abriu fogo e matou dois e feriu outros
dois.
O presidente da Associação de Cabos e Soldados de Pernambuco, Luiz
Torres, destacou a dedicação de Wagner para se tornar oficial da Polícia
Militar. "O sonho dele era um dia passar para ser oficial da polícia e ele
conseguiu realizar o sonho, mas, infelizmente, só conseguiu curtir esse
sonho por seis meses, que é o tempo de aspirante, quando ele foi promovido ao
posto de segundo tenente", afirmou Luiz.
Colega de Wagner na faculdade de Direito, Jaqueline Coelho, 30, definiu o tenente como alegre e um líder em sala de aula. "Era um menino muito alegre, prestativo, solícito, amigo de todo mundo, sempre gostava de organizar as confraternizações, um menino de sorriso largo. Um bom amigo. Era muito estudioso, esforçado e sempre que precisava dele ele estava pronto para ajudar. Ele era muito dedicado" , destacou Jaqueline.
Blog do Paixão