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MIGUEL DE LIRA: A HISTÓRIA QUE CORRE NOS SERTÕES – ÚLTIMA PARTE


Nascido em Serrita (PE), há 54 anos, Miguel de Lira deixou aquele município vindo a residir no local onde hoje se encontra, por volta de 1954.

Casado, sendo pai de três filhos, com vocação e tradição agrícolas comprou aquele pedaço de terra, cujo documento jamais recebeu, e que agora se torna quase impossível conseguir, dado aos fatos que o envolvem, nesse drama louco em que o destino o colocou. Veio, construiu casa e botou roça, sempre tido como elemento trabalhador e pacato, Miguel de Lira ia vivendo modestamente do produto de suas lavouras, dentro dos padrões normais dos pequenos produtores da região. Um problema familiar fê-lo separar-se da esposa e dos filhos, os quais foi deixar na casa do sogro em Serrita. Sua vida teria continuado calma e normalmente, hoje talvez novamente junto com a família, pois o que os separava nada tem de grave, se porém o acontecimento de pouca importância não viesse mudar o curso de sua existência, e transformá-lo no que é hoje. Um alienado. 
Miguel de Lira se dedicava, além da agricultura, pequena criação de porcos, prevenindo-se para algum momento de aperto. Um dia, dois dos animais cruzaram os limites da propriedade, indo invadir as plantações de um vizinho, esse, como costumam fazer os homens daquela região na defesa de sua roça, os abateu a tiros.

Tempos depois, algumas cabras do referido vizinho também cruzaram os limites das propriedades, indo invadir as roças de Miguel de Lira, dois desses animais foram abatidos a tiros, julgando-se Miguel, portando em seus direitos e pago pela perda que tivera anteriormente. O vizinho não gostou e por isso, deu queixas as autoridades policiais de Ouricuri. Miguel de Lira foi intimado a comparecer perante a justiça. Negou-se, pois em sua ingenuidade cabocla ele se considerava certo, nada tendo por que prestar contas, ou o porquê ser preso. Negou-se também à segunda intimação. E, sem esperar, um certo dia teve sua casa cercada. 

Era 9 de julho de 1967, mas ou menos às 6 horas da tarde. Nessas circunstâncias trancou-se no rancho, prevenindo-se para o que desse e viesse, e dali ficou escutando as ordens para que se entregasse. No cumprimento do seu dever, corajosamente, um cabo e um soldado tentaram tomar-lhe e peito, o refúgio, indo, respectivamente, um pela porta dos fundos e outro pela frente da casa. Acossado, Miguel de Lira atirou. Ali tombaram, feridos, o cabo Balbino Mendes, e o soldado Antônio, falecendo imediatamente, e o outro em poucas horas depois. Com essa ocorrência, o restante da tropa, comandada pelo delegado civil que funcionava como substituto, voltou a Ouricuri em busca de reforços. Voltaram à noite com um número maior de praças e fizeram cerco a Miguel de Lira, culminando com o incêndio de sua casa. Ele, conseguiu escapar. Daí veio à caça a Miguel de Lira. O medo passo a agitar aquelas vidas calmas e pacatas de parentes e amigos. O barulho de um veículo fazia com que o povo corresse para o mato.

A FUGA PARA O PIAUÍ

De Miguel de Lira, nada se sabia, não procurou sequer a casa dos parentes, a fim de não os complicar. E muito tempo se passou sem que se soubesse notícia dele. Miguel de Lira, porém, não se encontrava distante, andara apenas o suficiente para cruzar os limites do Estado, tendo ido se localizar na Serra do Borralho, Município de Paulistana (PI), e ali na qualidade de posseiro, construiu uma nova casa, e continuou se dedicando ao cultivo da terra, indo pouco aos povoados, fazendo isso apenas quando tinha de negociar o produto das lavras e para a compra de mantimentos necessários. Vivendo de caça e do que colhia, ali se deixou ficar. Uma única vez conta-se, procurou vingar-se daquele que fora a causa de todos os seus problemas, porém, aos se deparar com o inimigo, esse se encontrava com uma criança no colo. Miguel de Lira, então, desistiu do intento e perdoou. Por quatro anos ele permaneceu na Serra do Borralho, descansando, julgando-se salvo e esquecido. Porém, ao acordar e se dirigir para o terreiro a fim de atender a uma necessidade fisiológica foi surpreendido por um disparo feito de rifle surdo, vindo o projétil roçar-lhes de leve a coxa. Jogou-se dentro de casa, sendo coberto por uma saraivada de tiros, e dos quais só a sua agilidade o fez escapar, levando um saco nas costas com um cordão preso nos dentes, tendo apenas uma roupa e duas rapaduras, na mão direita o revólver calibre 32, e na esquerda a espingarda de caça, teve que abandonar os seus pertences, fugindo em meio ao tiroteio atirou num dos soldados ferindo-o à altura da garganta, não o suficiente para mata-lo. Fugindo dali, ele retornou a sua antiga morada, onde trabalhando, praticamente sozinho, preparou o solo para o aproveitamento do inverno que chega. Nada o demove da terra, na da o faz se afastar de seus instrumentos agrícolas, a não ser se, mais uma vez, tiver de trocar o cabo da enxada pelo gatilho do revólver.


E/D Joseli, Osvadlo Alves e Antônio Pinheiro

NOSSO PAPEL

As passagens sobre a vida de Miguel de Lira que acabamos de relatar, não foram por nós presenciadas, foram transmitidas por fontes fiéis, e são do conhecimento geral naquela região. A nossa missão é fazer um registro dos acontecimentos, pondo a figura de Miguel de Lira sob julgamento do povo, e solicitar às autoridades um estudo mais profundo da causa, deixando se possível, Miguel de Lira no manejo das armas para as quais nasceu: a enxada e o machado, sem que seja mais necessário ter que trocá-las pelos instrumentos de matar. O banditismo muitas vezes se origina de um erro de julgamento. Não são poucos os proscritos gerados em tais circunstâncias. O caso de Miguel de Lira foi tomado em sentido geral. Ele encarna, em nossa reportagem, a imagem do homem do campo, ignorante de leis, tímido diante da justiça, intrépido diante do inimigo, e por causa dessa ignorância, dessa timidez e dessa intrepidez, bem próximo à marginalidade, apesar de que, geralmente, honestíssimo, trabalhador e pacato.

Da Revista Região - Fevereiro de 1972

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1 Comentários
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  1. Ele foi morto em Ouricuri pe aproximadamente 1972 eu era criança quando o fato aconteceu mas

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