Filha de Dorival Caymmi, a
artista estava internada desde julho do ano passado na Casa de Saúde São José,
onde deu entrada para tratar uma arritmia cardíaca.
Por g1 Rio
Maria Bethânia e Nana Caymmi no Rio de Janeiro, em 2013 — Foto: Marcos Arcoverde/Estadão Conteúdo
Nana Caymmi, uma das maiores
cantoras do Brasil, morreu nesta quinta-feira (1º), aos 84 anos, no Rio de
Janeiro. A artista estava internada desde julho do ano passado, na Casa de
Saúde São José, no Humaitá, na Zona Sul, onde deu entrada para tratar uma
arritmia cardíaca.
Segundo o hospital, a morte se
deu em decorrência da disfunção de múltiplos órgãos.
Nascida Dinahir Tostes Caymmi em
29 de abril de 1941 – fez aniversário dois dias antes de morrer –,
a carioca cresceu em uma família de músicos: era filha de Dorival
Caymmi com Stella Maris, e irmã de Danilo Caymmi
e Dori Caymmi.
"O Brasil perde uma grande cantora, uma das maiores intérpretes que o Brasil já viu, de sentimento, de tudo. Estamos todos realmente muito tristes, mas ela passou nove meses de sofrimento intenso dentro de hospital", disse Danilo Caymmi, que narrou o sofrimento da irmã.
A carreira
Como definiu o colunista Mauro
Ferreira, Nana é dona de discografia pautada por extrema coerência na
seleção de repertório, arranjadores e produtores musicais.
Criada em um ambiente musical,
estreou na música ao lado do pai ainda adolescente, e, 1960, em um dueto na
canção “Acalanto”, composta por Dorival quando ela ainda era bebê. Os versos
viraram canção de ninar crianças por todo o Brasil: “Boi, boi, boi / Boi da
cara preta / Pega essa menina que tem medo de careta”.
No ano seguinte, após gravar o
primeiro compacto solo, ela largou tudo para ir morar na Venezuela, após se
casar com um médico venezuelano aos 18 anos.
A adaptação, porém, não foi
fácil, e ela retornou ao Brasil com as filhas Estela e Denise — e grávida de
João Gilberto, seu terceiro filho.
Nana Caymmi — Foto: Lívio Campos / Divulgação
Entre as canções que gravou, com
sua voz inconfundível, estão clássicos de Tom Jobim, Vinicius de
Moraes, Milton Nascimento e
Roberto Carlos – sempre imprimindo sua personalidade única.
Em 1964, Nana participou da
gravação do disco “Caymmi visita Tom e leva seus filhos Nana, Dori e Danilo”,
um clássico que fez sucesso não apenas no Brasil, mas também nos Estados
Unidos.
Pouco depois, encarou um dos
maiores desafios de sua carreira: o Festival Internacional da Canção, em 1966.
Interpretando “Saveiros”, de seu irmão Dori Caymmi, foi vaiada, mas venceu a
competição.
“Eu tava mais preocupada em
não desmaiar do que com as vaias”, relembra.
A artista gravou outras dezenas de discos na carreira. Entre eles, “Nana Caymmi” (1975), que a consolidou no cenário da MPB; “Renascer” (1976); “Voz e Suor” (1983), ao lado do pianista Cesar Camargo Mariano; “Bolero” (1993); e “A noite do meu bem - As canções de Dolores Duran” (1994), produzido por José Milton, com quem ela trabalhou até 2019.
Dori Caymmi e Nana Caymmi — Foto: Lívio Campos / Divulgação
Seu repertório também inclui
releituras marcantes de músicas do pai, como “O Que É Que a Baiana Tem” e
“Saudade da Bahia”.
Em 2004, ela e os irmãos Dori e
Danilo foram homenageados com o título de cidadãos baianos.
Novelas
A voz de Nana também marcou
presença em trilhas sonoras de novelas e minisséries da TV Globo, além de
participações especiais em cena.
Em 1998, o vocal de Nana estrelou
a abertura da minissérie “Hilda Furacão”, da TV Globo, com a faixa “Resposta ao
tempo”, composta por Aldir Blanc e Cristovão Bastos.
O bom resultado da canção fez com
que ela fosse convidada pela emissora carioca para gravar outro bolero –
"Suave veneno", de autoria dos mesmos compositores de Resposta ao
tempo, Cristóvão Bastos e Aldir Blanc – para a abertura da novela intitulada
Suave veneno, exibida em 1999.
A Universal Music lançou em 2017
uma coletânea Nana Novelas, que compila
Se comparada a outras cantoras da
MPB — como Maria
Bethânia, Elis
Regina e Gal
Costa —, ela nunca teve uma popularidade massiva. Mesmo assim,
ainda no início da carreira, se consagrou como uma das mais relevantes do país.
“Embora nunca tenha sido cantora
de arroubos teatrais, Nana encara o peso e a dramaticidade das músicas em que
põe a voz lapidada com o tempo que fez emergir, a partir dos anos 1970, o
brilho do verdadeiro diamante embutido nas cordas vocais da intérprete”,
escreveu o crítico musical Mauro Ferreira em 2021.
Os últimos álbuns lançados pela
cantora são “Nana, Tom, Vinicius” (2020) e “Nana Caymmi Canta Tito Madi”
(2019).
Nana também foi casada com Gilberto Gil,
entre 1967 e 1969. E namorou os cantores João Donato e Cláudio Nucci.
A cantora deixa três filhos e
duas netas.
Mais fotos da carreira
Nana Caymmi no musical 'Show do Mês', da Globo, em 1981 — Foto: Nelson Di Rago/Globo
Danilo Caymmi, Nana Caymmi, Dorival Caymmi, Stella Caymmi no lançamento da novela 'Porto dos Milagres', em 2001 — Foto: Eliane Heeren
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