Operação da Polícia Federal
revelou esquema que desviou R$ 6,3 bilhões de aposentados. Nesta sexta, o
ministro da Previdência deixou o cargo, após situação ficar insustentável;
oposição quer CPI.
Por g1 — Brasília
Wolney Queiroz foi nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado da ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) — Foto: Reprodução
A demissão do ministro da
Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), nesta sexta-feira (2), marca o ápice até
aqui de uma crise
política que começou com a revelação de um esquema
bilionário de fraudes envolvendo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
A Polícia Federal estima que até
R$ 6,3 bilhões tenham sido desviados de aposentados e pensionistas desde 2019.
A seguir, veja os principais
pontos da crise:
1. O que são as fraudes no
INSS
Uma operação da Polícia Federal e
da Controladoria-Geral da União (CGU) revelou que entidades sindicais e
associações que prestam serviços a aposentados cadastravam beneficiários do
INSS sem autorização — usando assinaturas falsas — para aplicar descontos
mensais diretamente na folha de pagamento.
Segundo as investigações, o
esquema começou no governo de Jair Bolsonaro (2019–2022) e se aprofundou no
atual governo. Entre os alvos está o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o
“Careca do INSS”, apontado como o operador central do esquema e sócio de 21
empresas.
A fraude pode ter atingido 4,1
milhões de pessoas. Entre 2023 e o primeiro semestre de 2024, os descontos
indevidos superaram R$ 3,2 bilhões. Em 95% dos casos, os beneficiários
afirmaram que não autorizaram os débitos.
2. Queda de Lupi e do
presidente do INSS
O escândalo levou à demissão do
presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, na semana passada. Ele foi indicado
ao cargo por Carlos Lupi e foi citado nas investigações como figura-chave da
estrutura envolvida nas fraudes.
Diante da pressão crescente, Lupi
pediu demissão nesta sexta-feira (2). Em nota, afirmou que seu nome não foi
citado nas investigações, mas reconheceu a gravidade da crise. A saída foi
negociada diretamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nos bastidores, o governo
avaliava que a permanência de Lupi era insustentável e que o desgaste poderia
contaminar ainda mais a imagem do Planalto.
3. O novo ministro já estava
no centro das discussões
O escolhido para substituir Lupi
foi Wolney Queiroz, ex-deputado federal do PDT e número dois da pasta.
Ele exercia o cargo de
secretário-executivo da Previdência Social e também participou da reunião do
Conselho Nacional da Previdência, em 2023, na qual as primeiras denúncias foram
apresentadas. Só que medidas para coibir a fraude foram tomadas só um ano depois.
A escolha de um nome ligado
diretamente à antiga gestão pode não acalmar os ânimos como o governo gostaria.
A oposição já sinaliza que vai
cobrar explicações e pode passar a pressionar agora pela saída de Wolney.
4. A ameaça de uma CPI no Congresso
Aliados de Lula admitem
preocupação com a possibilidade de instalação de uma Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) para investigar o caso. Parlamentares da oposição,
especialmente do PL e do Novo, já articulam os primeiros movimentos.
A fragilidade da base do governo
no Congresso — que depende de apoios do Centrão — torna qualquer CPI um fator
de desgaste adicional, especialmente em um tema sensível como o desvio de
recursos de aposentados.
Ano que vem é ano eleitoral. Uma
CPI em 2025 tem o poder de afetar as ambições do governo.
5. O desafio do ressarcimento
O governo prometeu devolver os
valores descontados indevidamente dos beneficiários. O presidente Lula
determinou que a AGU processe as associações envolvidas e garanta o
ressarcimento às vítimas. Mas até agora não foi apresentado um plano claro de
como ou quando isso será feito.
O ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, afirmou que o governo está buscando “o caminho” para fazer os
pagamentos. A CGU e a AGU ainda avaliam como estruturar a devolução.
Enquanto isso, a pressão por respostas aumenta — e a crise segue sem prazo para terminar.
Blog do Paixão