- “A prefeitura não deve ser cabide de empregos, ela tem que servir a todos e não a interesses individuais”.
Essa frase acima é fictícia, mas pode ser dita ao eleitor que acabou de pedir emprego ao prefeito eleito e do qual ele foi induzido a se filiar no partido e que depositou na urna eletrônica a seu favor o voto.
A este eleitor ele foi categórico em dizer que não transformará a prefeitura num meio mais fácil de diminuir os índices de desemprego no município que ele governará.
A este eleitor que deve ser de procedência de família humilde, de sobrenome talvez “Silva”, ele tomou a atitude que podemos dizer “sensata”, afinal transformar a prefeitura num balcão de negócios e favores não é digno de um gestor coerente, racional, que deseja e pretende trabalhar em prol do bem comum.
Mais eis que o mesmo pedido feito de maneira mais imperiosa, solicitado por quem sabe uma pessoa de sobrenome forte, de influência e tradicional na política local. A resposta não tem nada de vontade e do pensamento voltado para todos, e aí “o vamos conversar” muda o tom do discurso e quando percebemos todos da família consegue bons empregos, salários altíssimos e pronto, a farra, curtição e a ostentação com o dinheiro público é evidente.
É fácil de perceber e de explicar o que queremos dizer. Eu poderia citar aqui todas essas famílias, qual o poder de barganha delas (porque muitas não têm a expressão numérica em votos) e quais são as estratégias que sempre usam para manter em todas as gestões os privilégios que são assegurados como se fossem empregos vitalícios.
Essas famílias são parte integrante da sociedade aripinense, araripeana, e são sempre coloridas. Elas sempre jogam para ganhar e são evidências em todas as campanhas eleitorais principalmente daqueles candidatos que estão bem nas pesquisas e quem tem as chances de saírem vitoriosos. Elas se consideram espertas, se vangloriam por conseguir os melhores empregos públicos e são por definição: corruptas.
Essas famílias contempladas são sempre vinculadas e têm ligação com algum vereador – quando não é da sua própria família – e que fez campanha como aliado do prefeito e aprova todos os projetos de interesse do executivo.
Essa história que é fato em Araripina, não acontece somente na administração atual, ela é resquício de muitos outros gestores que sempre conseguiram governar em prol de uma parte da sociedade, tornando o processo político e social segregado. Essa minoria privilegiada, educada (à custa do nosso dinheiro) e sempre influente manda e detém todos os melhores empregos públicos municipais e viram os mensageiros de uma política mesquinha, opressora e medonha.
Em torno do poder familiar de influência existem as cobaias, os apaniguados, os X9, e toda uma espécie de serviçal que é pago para fuxicar, amedrontar e importunar a vida de quem é opositor ao sistema e ao governo.
Araripina é hoje o retrato dessa história, e quantos de uma mesma família não consegue empregos que os salários são compatíveis com o escalão maior do poder e da hierarquia?
Quantos não são realocados no município ganhando salários gordos mesmo sendo aposentado no emprego público?
E o Tribunal de Contas que analisa as folhas de pagamento das prefeituras, não consegue identificar essa distorção?
Não consegue identificar membros da mesma família sendo beneficiados com altos salários, quando o servidor efetivo não consegue nem conversar com o prefeito para discutir acordos salariais?
É minha gente, dessa pátria em que dizemos viver deitados eternamente em berço esplêndido, não sou eu e nem você que vive nesse paraíso de ostentação, mas uma meia dúzia de afortunados que viaja, come pizza toda semana, compra roupas de marcas, celular de última geração, carros, e se encontra no topo da pirâmide social.
Estamos aqui em baixo na pirâmide, contente por sermos proletariados e vítimas dessa injustiça social, mas sempre acanhados em silêncio, se sentido menor, ajustado ao velho lema de amanhã eu posso precisar deles, sem ao menos tentar reagir e discutir os destinos corretos dos nossos recursos que são oriundos do nosso trabalho, dos nossos esforços e das nossas contribuições.
As famílias abastadas agradecem essa nossa contribuição de passividade, inércia e imaturidade em acreditar que não podemos bradar para acabar com essa máfia de proteção, nepotismo e favorecimento.
Pedro Calderón de La Barca
Blog do Paixão