PUBLICIDADE

Type Here to Get Search Results !

cabeçalho blog 2025

HISTÓRIA DE ARARIPINA: TEMPOS DIFÍCEIS, ALEGRES E CRIATIVOS QUE VIVEMOS. VALE A PENA RELEMBRAR


Família Paixão e Bahia (Foto de 1980) - Casa da Esquina à Rua José Arnaud Campos

Vendo alguns comentários sobre cultura que falava justamente da nossa história, da nossa memória, do que sobrou do passado da nossa Araripina, o que restou para mostrar no presente?

Acho que só nos resta a cada um de nós contar a nossa própria história e buscar em cada canto para revivê-la, dissertando e como lume despertando quem sabe no nosso jovem contemporâneo, o prazer que por incompetência de todos nós não podemos fisicamente mostrar a sua importância.

Em 1978, morávamos numa casa de esquina (foto) na Rua José Arnaud Campos. Tinha apenas um quarto e dormíamos em redes que eram armadas todas na sala, o que ficava parecendo um emaranhado de cordas e entrelaçados. No tempo frio (coisa rara  para nós sertanejos), por falta de lençóis que em tamanho se cobria a cabeça, descobria as pernas, era um sofrimento só. Pode imaginar como era a situação. Se chovia as goteiras faziam da casa um alagadiço e a noite para dormir, além do frio, éramos obrigados a desviar dos pingos de chuvas. A minha rede tinha um buraco por onde escorriam os pingos de “mijo” e no tempo frio, o ensopado ajudava ainda mais a aflição. As paredes eram decoradas com armadores, confeccionados com barra de ferro 5/16 contorcido e fixado com cimento (meu pai trazia os pedaços já dobrados com formato de  torno das construções que trabalhava). Armador (ou torno) para rede era coisa pra rico. A maioria das roupas que nos vestia, além dos sapatos (cavalo de aço) que sobravam em nossos pés, doados pelos filhos dos ricos (usávamos o velho e antigo papel de pão no bico dos mesmos para apertá-los), eram doadas por pessoas das quais a nossa “mãe” trabalhava como diarista (empregada doméstica ou trabalhadora de casa de família). Também servíamos ou servimos por muito tempo como "meninos-placas de propaganda política", quando recebíamos em nossas casas sacolas de camisetas estampadas com as figuras dos candidatos dos figurões políticos da época. “Agora estão todos vestidos, graças a nós” – era o que mandavam dizer. E como não tínhamos outra opção, aquilo era um momento de júbilo e satisfação.


Paulo de Seu Jota (de verde), Jotinha (Irmão de Lêda de Camisa Rosa), Welligtons, Itinho, Arimateia, Eu (de braços cruzados) Gorete de Vestido azul (minha irmã), Diana e os dois moços paulistas. (Foto Arquivo de 1980)

Comprava-se colher de café, de açúcar, de sal, de óleo, dente de alho...
... nas Bodega de Seu Juvenal, de Seu Pedro, Seu Mané Lúcio, Dona Júlia (uma mãe para todos os filhos párias da redondeza – Rua da Padre principalmente).

Brincávamos de bola na rua e usávamos duas pedras ou chinelos, para servir de traves para o gol. Quando não tinha bola brincávamos com garrafas vazias de água sanitária (quando encontrávamos uma, porque naquele tempo tudo era reciclado e difícil de encontrar). Quando acertávamos no bico da garrafa a dor era insuportável.
Dormíamos abraçados com uma bola canarinho ou dente-de-leite, furada (quem podia comprar uma bola nova?) e muitas vezes jogávamos com ela praticamente “amassada”. Quem nunca assoprou no “pito” de uma bola para enchê-la de ar com a boca no meio de uma pelada? Mão, gritava os moleques – não vale, a bola precisa encher.

Também apanhei muito por gostar do esporte, porque muitas vezes ultrapassávamos a hora limite estipulada por nossa mãe – chegar antes do pai – perdíamos quase todos os dias o horário marcado e a primeira coisa que ele fazia era olhar para os nossos pés. A saliva ou o “cuspe”, não dava para passar nos pés todos, e aí a “peia” com corda em duas dobras era certa.

E os brinquedos? Os carros confeccionados com latas de óleo e pneus de sandálias velhas que eram encontradas no lixo (coisa rara), e muitas outras invenções que fazia com que fôssemos criativos pela necessidade da época. Tudo tinha que ser inventado.

Caí no poço, esconde-esconde, mão-no-bolso, bate figurinha (pagas com carteiras de cigarros vazias – que funcionava como moeda), boca de forno (faz tudo que o mestre mandar), carimbada, jogo de bila (bole de gude que tinha que ser retirada de um círculo), bolinhas de sabão, estátua, ioiô, passa anel, peteca, roda pião, três três passarás, túnel, as cavernas que eram feitas no emaranhado do matagal de aveloz (ou avelós) (logo ali por trás do CERU), jogos de pedrinhas (foto), e tantas brincadeiras que fica num passado bem distante, mas nos trazem muitas saudades. Eu brinquei de tudo isso.

Imagem Ilustrativa
Portanto, vou contando também aqui um pouco do que vivi, porque uma vida se faz de história e essa história tem muito a ver com a cidade onde nascemos e crescemos.

A vida não é moleza, mas bom mesmo é ter história para contar. Isso dar uma saudade.


Postar um comentário

0 Comentários
* Por favor, não faça spam aqui. Todos os comentários são revisados ​​pelo Admin.

Publicidade Topo

Publicidade abaixo do anúncio