Apresentações marcam o 15º aniversário da montagem, que traz em sua estruturação uma série de manifestações populares do Nordeste
Por: Mabson Rodrigues - Diario de Pernambuco

O texto da peça faz parte da série literária Trilogia das festas brasileiras. Foto: Gianny Melo/Divulgação
Um espetáculo de luz, história e tradição. Encenado desde 2004 na Praça do Marco Zero, o Baile do Menino Deus - Uma brincadeira de Natal é um dos maiores clássicos da dramaturgia pernambucana, responsável por encantar mais de 70 mil pessoas todos os anos. Coordenado pelo dramaturgo cearense, Ronaldo Correia de Brito, autor de obras como O reino desejado, Retratos de mãe, Ópera de fogo e Malassombro, o espetáculo que conta a história de dois brincantes que embarcam numa jornada para celebrar o nascimento de Jesus será exibido deste domingo até a terça-feira, na estrutura montada no Marco Zero, no Bairro do Recife, a partir da 20h.
As apresentações marcam o 15º aniversário da montagem, que traz em sua estruturação uma série de manifestações populares do Nordeste, narradas a partir de figuras da tradição brasileira e ambientadas em cenários, músicas e coreografias. Para celebrar os 15 anos do show, uma série de novidades foi implementada no musical, entre elas mudanças na área musical, inovações na cenografia e nos figurinos, a presença de novos solistas como Felipe Costa, Beto Ortiz, Carlos Filho e Adiel Lima. Conta ainda com a participação de nomes já conhecidos como Isadora Melo, Surama Ramos, Virgínia Cavalcanti e Silvério Pessoa.
Criado em 1983 pelos escritores Antônio Madureira, Assis Lima e Ronaldo Correia de Brito, o texto da peça faz parte da Trilogia das festas brasileiras, série literária que inclui as obras Arlequim de carnaval e Bandeira de São João. No Baile do Menino Deus, o enredo se desdobra através dos personagens Mateus I e II, interpretados pelos atores Sóstenes Vidal e Arilson Lopes, que se revezam com Paulo Pontes e Daniel Barros. A dupla segue numa saga repleta de música, dança, brincadeiras, sortilégios e invocação de criaturas como o Jaraguá, a burrinha Zabilin e o Boi.
Natural de Serra Talhada, no Sertão do estado, Arilson Lopes, intérprete de Mateus I, ingressou no Baile do Menino Deus nos primeiros anos do espetáculo. O artista, que largou o curso de direito para atuar, iniciou a carreira na dramaturgia em 1997, participando de peças no Recife, onde se formou em Licenciatura em Teatro pela Universidade Federal de Pernambuco. De acordo com o ator, a oportunidade de participar do Baile foi um dos maiores presentes de sua carreira.
“Fazer teatro na rua para milhares de pessoas é uma das maiores riquezas para nós, atores. São 15 anos dedicados a essa montagem que tanto nos ensina e nos emociona”, afirma o ator. “O Baile do Menino Deus é uma verdadeira escola para dançarinos, solistas, músicos e artistas da dramaturgia em geral, que, além de contar a história tão bonita do nascimento de Jesus, contribui para a evolução de muitos profissionais. Eu costumo dizer que, além de uma peça, o baile é um lugar de descobrimento e de formação de talentos.”
A obra busca manter a essência da história original, porém sempre atrelada à modernidade e atualidade. Segundo o diretor do musical, Ronaldo Brito, a inclusão de elementos sociais no enredo da produção é um fator de grande importância, pois enriquece o desenvolvimento da peça e contribui na defesa de causas globais. “O Baile é uma abertura de portas para o universo poético mais amplo, onde o popular se alia aos temas universais como migrações, etnias, respeito e solidariedade, sem perder o fio narrativo. É um espetáculo para toda a família, com uma experiência lúdica repleta de emoção, musicalidade e uma mensagem singular de amor ao próximo, tradição e humanidade. É uma verdadeira festa ao ar livre, cheia de encantos e muita cultura popular”, diz o dramaturgo.
Para a produtora do espetáculo, Carla Valença, mais que uma apresentação artística, a peça é a representação de um trabalho feito com resistência e amor à arte. “Ao longo desses 15 anos, nós que fazemos o baile sempre recebemos alguma lição com esse projeto. O show é uma verdadeira pedra lapidada. Estamos vivendo num momento crítico no Brasil, em que devemos mostrar cada vez mais a força da resistência, da arte e da cultura. Mais que uma simples montagem, espetáculos como o Baile do Menino Deus representam a importância da Lei federal de incentivo à cultura, que tanto foi ameaçada”, afirma.
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