Indicada para a presidência do órgão, Maria
Marighella é neta de Carlos Marighella, guerrilheiro comunista que chegou a ser
considerado o inimigo "número um" da ditadura
A vereadora por Salvador Maria Marighella vai assumir a presidência da Fundação Nacional de Artes (Funarte)Reprodução / Instagram
Danilo Moliternoda CNN
São Paulo
M |
aria Marighella será presidente da Fundação
Nacional de Artes (Funarte) no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A vereadora de Salvador é neta de Carlos Marighella, político e guerrilheiro
comunista que chegou a ser considerado o inimigo “número um” da ditadura militar (1964-1985).
O anúncio da nomeação foi feito na última
segunda-feira (2) pela ministra da Cultura, Margareth Menezes. Em suas
redes sociais, Maria Marighella celebrou a indicação e o recebimento da “tarefa
de retomar a construção da política nacional de artes”, que — segundo ela — foi
interrompida após o impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016.
“É uma grande responsabilidade ser a primeira
mulher nordestina a ocupar esta presidência. Refundaremos também a Funarte com
a força da cultura de todo o Brasil. À reconstrução do MinC, à refundação do
Brasil!”, escreveu na última terça-feira (3).
A nova presidente da Funarte tem 46 anos, é
nascida em Salvador e graduada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ela
se elegeu vereadora da capital baiana em 2020, pelo Partido dos Trabalhadores
(PT).
O pai de Maria, Carlos Augusto Marighella,
estava preso no momento de seu nascimento, em 1976. Ele foi detido em uma
operação comandada pelo Coronel Brilhante Ustra,
que encarcerou dezenas de militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) na
Bahia.
A baiana não conheceu seu avô, executado por
múltiplos tiros à queima-roupa em uma emboscada policial, em 1969. Dirigente do
partido comunista e líder da Aliança Libertadora Nacional (ALN), ele foi um dos
comandantes da resistência armada contra a ditadura militar.
Apesar disso, aos três anos de idade, conheceu
sua avó, Clara Charf — militante comunista, ativista pelos direitos das
mulheres e recém-chegada do exílio em 1979, com a promulgação da Lei da
Anistia.
Apesar de ter se filiado ao PT somente em
2020, Maria Marighella foi coordenadora de Teatro da Fundação Cultural do
Estado da Bahia (Funceb) e Diretora de Espaços Culturais da Secretaria de
Cultura do Estado da Bahia (Secult/BA) durante governos petistas no estado.
A vereadora, que defende uma “política
feminista e antirracista”, também foi coordenadora da própria Funarte, no
governo Dilma. Ela atuou na construção da Lei Aldir
Blanc que, dentre outras medidas, possibilitou o auxílio
emergencial para trabalhadores da Cultura durante a pandemia da Covid-19.
Críticas a Bolsonaro, Ustra e impeachment de Dilma
A vereadora de Salvador direcionou diversas
críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante
seu governo (2019-2022). Em novembro de 2021, ela condenou episódio em que o
capitão reformado sugeriu que as questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
se referissem ao “golpe de 1964” como “revolução de 1964”.
“A posição criminosa de Bolsonaro não
surpreende porque vem de alguém que dedicou o seu voto na admissibilidade do
impeachment da presidenta Dilma Rousseff — outro golpe — ao torturador Brilhante
Ustra, que havia torturado a presidenta durante aqueles anos nefastos”,
escreveu.
Responsável por prender o pai de Maria, Ustra
foi coronel do Exército Brasileiro e chefe do DOI-CODI, um dos órgãos atuantes
na repressão política da ditadura. Em 2008, ele tornou-se o primeiro militar
condenado pela Justiça brasileira pela prática de tortura durante o regime.
Meses antes, em agosto de 2021, ela usou suas
redes sociais para criticar a possibilidade de privatização dos Correios, que
disse “atender aos interesses das grandes empresas”. “O autoritarismo de
Bolsonaro está firmemente aliado à agenda liberal de desmonte do Estado”,
escreveu.
Blog do Paixão