Brasileiros
expulsos dos Estados Unidos relataram agressões, humilhação e medo de morrer
durante viagem de retorno.
Por
Beatriz Mendes, Graciela Andrade, Pedro Cunha, Fabiano
Vilella, Fernando
Zuba, g1 Minas e TV Globo — Belo Horizonte
Brasileiros deportados dos Estados Unidos relatam agressões, humilhação e medo de morrer durante viagem de retorno. — Foto: Reprodução/TV Globo
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Os
primeiros brasileiros deportados dos Estados Unidos, depois da posse de Donald
Trump como presidente, pousaram
no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na Grande BH, na
noite deste sábado (25).
Relatos
da experiência da viagem de retorno são dramáticos, com agressividade dos
agentes de imigração, das condições desumanas durante todo processo de
deportação, e até mesmo problemas com o avião.
Sandra
Pereira de Souza, de 36 anos, o marido Alisdete Gonçalves dos Santos, de 49, e
os dois filhos pequenos estavam entre os passageiros. Ela contou que viveu
momentos tensos, desde o tratamento que receberam até a falta de estrutura
do avião.
“Um inferno, uma tortura desde que saímos da Louisiana. Deu para perceber que o avião tinha algum problema. Acho que foi uma falta de compromisso deles com os seres humanos, a gente estava morrendo de medo de morrer”.
Segundo
Sandra, eles caíram em um tipo de armadilha, saíram de casa acreditando
que iriam para uma reunião com a imigração, mas não retornaram. Levando
apenas os pertences que tinham em mãos e nem ao menos tiveram tempo de pegar
uma fralda para o filho.
Apesar
de terem imigrado ilegalmente, o casal disse que cumpria com todas as
obrigações com a imigração, há três anos e meio, desde que chegaram. Eles
construíram uma empresa nos Estados Unidos e a deixaram para trás, além da casa
e o carro que tinham.
Sandra
e Alisdete, que nasceram em Itambacuri, na Região do Vale do Rio Doce, em Minas
Gerais, disseram que não estava nos planos voltar para o Brasil, mas, depois do
que passaram, querem somente reconstruir a vida no Brasil.
Algemas,
agressões e ameaças
Entre
os 88 brasileiros, vários foram algemados pelos agentes de imigração dos
Estados Unidos. Durante o voo de Manaus para Belo Horizonte, o ministro da
Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, determinou a retirada
das correntes e solicitou um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) para eles
completassem a viagem com dignidade e segurança.
O
brasileiro Carlos Vinícius de Jesus, de 29 anos, contou que ele e outros
passageiros foram algemados, agredidos e ameaçados.
“Foi terrível, vim preso nos braços, nas pernas e na cintura, eles não respeitaram a gente. Bateram em nós. Disseram que iam deixar derrubar o avião e que o nosso governo não era de nada”,- relatou.
Brasileiros deportados dos Estados Unidos relatam agressões, maus tratos, humilhação e medo de morrer durante viagem de retorno — Foto: Reprodução/TV Globo
Carlos
é natural de Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e tentou
imigrar ilegalmente pelo México, em 2023. Ele foi pego durante a travessia
e estava preso desde então. Ele teria gasto cerca de 30 mil dólares para
imigrar, mas agora disse que está aliviado de estar no seu próprio país.
Vários
homens brasileiros que estavam no voo relataram que foram agredidos
durante todo percurso, com empurrões, tapas, murros e que também foram
agredidos com as próprias algemas. Segundo eles, apenas mulheres, crianças
e os pais que estavam com crianças foram poupados.
Brasileiros deportados dos Estados Unidos relatam agressões, maus tratos, humilhação e medo de morrer durante viagem de retorno — Foto: Arquivo pessoal
Condições
do avião
Durante
o trajeto dos Estados Unidos para o Brasil o avião parou no Panamá, por
problemas técnicos. Apesar disso, a tripulação decidiu continuar a viagem sem
trocar de aeronave.
“O
avião estava em condições precárias, teve que viajar com o mecânico dentro do
avião, eu nunca vi isso. O avião não queria funcionar”, contou Kaleb Barbosa,
de 28 anos, que migrou para os Estados Unidos há seis anos para dar uma vida
melhor aos filhos.
Depois
deste tempo morando nos Estados Unidos, Kaleb retornou apenas com um saco
com algumas roupas e objetos pessoais. Ele contou que, nos últimos dias,
durante a deportação, enfrentou momentos aos quais jamais pretende se submeter
novamente.
Brasileiros deportados dos Estados Unidos relatam agressões, maus tratos, humilhação e medo de morrer durante viagem de retorno — Foto: Reprodução/TV Globo
“O momento mais difícil foi quando o ar-condicionado estragou no ar, as pessoas começaram a passar mal, alguns desmaiaram e as crianças estavam chorando. As turbinas estavam parando durante o voo, foi desesperador, coisa de filme mesmo”,- disse.
Depois
do pouso em Manaus, Kaleb contou que que as turbinas do avião chegaram a
soltar fumaça enquanto tentavam continuar a viagem para Belo Horizonte. As
saídas de emergência foram abertas e ele pediram socorro.
Ainda
segundo ele, se não fosse a intervenção do governo e a mudança para um avião da
FAB, todos poderiam estar mortos.
Blog do Paixão